Independência e participação cidadã: desafios para as ISC nos próximos anos

O tema foi debatido no último dia do Fórum Internacional de Auditoria Governamental, no Rio de Janeiro

Independência e participação cidadã: desafios para as ISC nos próximos anos

11/11/2022

“Fazer a Incosai no Brasil é a realização de um sonho que se iniciou em 2012. Esse é um momento histórico para o TCU e para o Brasil”, afirmou o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Augusto Nardes, durante a abertura do painel “Independência das Instituições Superiores de Controle e a Participação cidadã no Controle Externo”, promovido pelo Fórum Internacional de Auditoria Governamental (FIAG) nesta quinta-feira (10/11).

O ministro enfatizou que, no Brasil, todos os ministérios e estatais atuam sob os parâmetros das diretrizes da governança. “Essa iniciativa foi possível graças à implementação da Rede de Governança Brasil, o quelevou à redução da corrupção e contou com a participação dos cidadãos”, afirmou. Segundo ele, a gestão pública com governança está crescendo não só no Brasil, mas também na América Latina por meio das auditorias preventivas que trazem indicadores de governança. 

Os desafios da independência

O diretor-geral de Iniciativas de Desenvolvimento da Organização Internacional das Instituições Superiores de Controle (Intosai), Einar Gorrissen, explicou, em sua palestra sobre independência das instituições superiores de controles (ISC), que a conquista da independência é multifatorial, depende de uma série de fatores e não apenas da atuação das ISC.

Segundo Gorrissen, o tema é complexo porque exige o envolvimento do parlamento de cada país para que a legislação possa ser ajustada naquilo em que limite o exercício pleno da independência das insituições de controle. Ele afirmou que tentativas de interferência em auditorias têm sido relatadas por muitas ISC ao redor do mundo e que a “separação do parlamento é um aspecto fundamental para o alcance da independência.”

O diretor da Intosai informou que um estudo feito pela Organização apontou ameaças à democracia em muitas partes do mundo. “O quão democrático é um país está diretamente relacionado a quão independente é sua instituição superior de controle. Neste cenário, a independência se torna um desafio maior”, afirmou.

Gorrissen apresentou oito pilares para o alcance da independência das ISC: respaldo legalrecursos humanos e financeiros suficientes para as auditorias; liberdade para escolha planejamento dos objetos de auditoriamandato específico que garanta estabilidade no cargo para os auditores; livre acesso à informação; possibilidade de publicação de relatórios uma vez ao ano, no mínimo; acompanhamento das recomendações propostas; e liberdade para escolha dos conteúdos de suas publicações.  

Participação cidadã

O Controlador-Geral do Peru, Nelson Shack Yalta, compartilhou a experiência do controle social em seu país. O Peru conseguiu atrair 16 mil “monitores de controle” que participam de todas as etapas das auditorias, desde o planejamento até às ações de acompanhamento no pós-fiscalização. “Nós incentivamos o controle social e oferecemos capacitação. Além de dar mais capilaridade para as ações de auditoria do país, eles trazem uma visão holística e integrada que enriquece o nosso trabalho”, destacou.  

Para Cesar Miola, Conselheiro da Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon), o controle social só é possível por meio do conhecimento. “Ninguém controla o que não conhece”. Ele ressaltou que no Brasil a instituição da Lei de Acesso à Informação (LAI) foi um avanço, mas ainda é preciso mais. Miola defende o tratamento das informações, deixando-as com linguagem acessível para a sociedade.

Miola mencionou exemplos de iniciativas bem-sucedidas de comunicação desenvolvidas por vários tribunais de contas do Brasil, como a TV Cidadã, do Tribunal de Contas de Alagoas, e anunciou que a Atricon vai divulgar, no próximo mês, os resultados do Programa Nacional de Transparência Pública, que analisou os portais de mais de quatro mil municípios brasileiros com o objetivo de averiguar o nível de transparência e a qualidade das informações divulgadas.

A representante da Parceria Internacional de Orçamento, Claire Schouten, afirmou que as organizações não-governamentais podem ser importantes parceiras no desenvolvimento de ações que levem informação das ISC para a sociedade civil. Ela citou parcerias exitosas com a mídia no sentido de informar e sensibilizar o público para envolvê-los no debate sobre a importância e os benefícios do controle social.  

O conselheiro do Tribunal de Contas de Portugal, José Manuel Santos Quelhas, informou que em seu país a legislação já prevê a participação cidadã. O desafio, segundo ele, é conseguir um diálogo efetivo com a sociedade, especialmente nos tempos das redes sociais. 

Para enfrentar o problema, a ISC portuguesa realizou trabalho de autoavaliação em que foram ouvidos vários stakeholders, públicos de interesse da instituição de controle, como sindicatos e, também, o parlamento. O resultado foi o desenvolvimento de um plano de ação de comunicação e aproximação com a sociedade que deve ser implementado entre 2023 e 2025.

plugins premium WordPress

Ministra

Ana Arraes

Presidente do Tribunal de Contas da União – Brasil (TCU)

É com grande satisfação e honra que o Tribunal de Contas da União sedia, no Rio de Janeiro, o XXIV Congresso Internacional das Entidades Fiscalizadoras Superiores, a ser realizado em novembro de 2022.

O encontro acontece em um momento crucial. O mundo foi severamente atingido pela pandemia da Covid-19. Neste cenário, embora ainda não haja prazo para a crise ser totalmente superada, a importância da cooperação internacional se destaca cada vez mais.

Essa é uma crise que não tem fronteiras e, consequentemente, as soluções para resolvê-la também não podem ser realizadas de forma isolada. Juntos, podemos trabalhar e contribuir concretamente para atender com mais assertividade e qualidade às demandas de nossas sociedades.

O Incosai reúne, a cada três anos, representantes das Entidades Fiscalizadoras Superiores (EFS) de todo o planeta, para uma semana de debates e intercâmbio de melhores práticas. O objetivo das discussões é o aprimoramento do controle externo e da auditoria pública em um mundo em constante transformação.

Os desafios são muitos, mas acredito firmemente no sucesso do Congresso, sob a liderança do TCU, para ouvir a voz de todos e compartilhar os resultados com vistas ao benefício mútuo.
A realização do evento e a liderança da Intosai implicam benefícios que vão além da integração e da troca de experiências. Esse é um encontro que proporciona o desenvolvimento de ferramentas e de iniciativas que, no longo prazo, beneficiam a organização e a comunidade como um todo.

Frente a esse cenário desafiador, mas promissor, faço um convite a todas as EFS: envolvam-se, participem e tragam suas visões, dúvidas e dificuldades para o debate do XXIV Incosai.
Esta é uma oportunidade ímpar de ampliar a voz global da Intosai!

Estou segura de que a cooperação, o esforço conjunto e o empenho da nossa comunidade internacional de auditoria pública resultarão em um Congresso bem-sucedido, que gerará resultados concretos para os cidadãos de todo o mundo!

Ministra

Ana Arraes

President of the Federal Court of Accounts – Brazil (TCU)

It is with great pleasure and honor that the Federal Court of Accounts – Brazil (TCU) hosts the XXIV International Congress of Supreme Audit Institutions, to be held in November 2022, in Rio de Janeiro.

The event takes place at a crucial time. The world has been severely impacted by the Covid-19 pandemic. Even though we still cannot predict when this crisis will be overcome, this scenario highlights even more the importance of international cooperation.

This crisis has no borders and, consequently, the solutions to solve it cannot be carried out individually. By standing together we can work and contribute concretely to meet the demands of our society with more assertiveness and quality.

Every three years, INCOSAI gathers representatives of Supreme Audit Institutions from around the world for a week of debates and exchange of best practices. These discussions aim to improve external control and public auditing in a world in constant transformation.

The challenges are many, but I firmly believe that under the TCU’s leadership the Congress will succeed in listening to the voice of all and sharing the results, with a mutual benefit in mind.

The upcoming event and INTOSAI’s leadership imply benefits that go beyond integration and the exchange of experiences. This is a meeting that provides the development of tools and initiatives that, in the long run, benefit the organization and the community as a whole.

Given this challenging but promising scenario, I extend an invitation to all SAIs: get involved, participate and bring your visions, doubts and difficulties for debate at the XXIV INCOSAI.

This is a unique opportunity to amplify INCOSAI’s global voice!

I am confident that the cooperation, joint effort and commitment of our international public audit community will result in a successful Congress that will bring forth concrete results for citizens around the world!
Minister Ana Arraes, President of the Federal Court of Accounts – Brazil (TCU